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Não é clickbait, tenho mesmo um carro elétrico e não tenho garagem para o carregar!
Se sou louco? Provável. Se sou calculista? Muito! No entanto, também gosto de tecnologia e a Tesla tem muita.

Como ponto de partida, o meu anterior carro era um Mercedes Classe A 180d (W177), comprado em maio de 2019, com 1.000 km. Foi vendido com 75.000 km, em março de 2023.

A partir de abril de 2023, passei a ser dono de um Tesla Model 3 Standard Range Plus, de 2021, com 47.970 km. Exterior branco, interior preto, bateria NCA [55 kWh], jantes de 19' e o Autopilot de base.


Porque troquei para um elétrico?

A parte racional foi suportada pelo Excel, como vocês perceberão mais abaixo. No entanto, gosto de tecnologia e sempre tive muita curiosidade em usar um carro elétrico no meu dia a dia, o que representa a parte irracional desta compra.

Se estava satisfeito com o Mercedes? Sim, estava. Se precisava trocar? O Excel diz que sim, mas se não tivesse trocado, teria continuado a viver da mesma forma que vivo hoje. No final do dia, todos valorizamos mais alguns aspetos do que outros, que podem mudar conforme a fase da vida, e foi isso que aconteceu.

E se fosse hoje, será que voltaria a mudar? Provavelmente não, mas isso deve-se ao facto de que agora valorizo outras coisas que, há um ano atrás, quando pensei em trocar, não valorizava. Mas isso não tem a ver com os pontos positivos ou negativos de ter um carro elétrico.


Sem carregamento em casa, como é a rede pública?

As minhas expectativas eram bastante baixas devido aos relatos que fui lendo na Internet ao longo dos anos. No entanto, em Abrantes, onde vivo e utilizo mais a rede pública, não tenho motivos para reclamar.

Na zona urbana [centro histórico e área de supermercados], temos:

  • 6 PCN (aka carregadores lentos type2) - permite carregar 14 carros em simultâneo
  • 6 PCR (aka carregadores rápidos CCS2) - permite carregar 10 carros em simultâneo

Um dos carregadores lentos, perto da minha casa, foi um dos fatores que me levou a decidir por um veículo elétrico. Ter a possibilidade de deixar o Tesla num carregador quase sempre livre, a apenas 5 minutos a pé de casa, é muito importante. Claro que, quando decidi pela compra, os preços da eletricidade eram bem mais baixos, mas tratarei desta questão mais adiante.

Deixem-me dar uma perspetiva de como é a minha semana, já que é algo peculiar e só assim é possível usar um carro elétrico sem ter uma solução de carregamento em casa. Por motivos profissionais, preciso ir apenas uma vez por semana a Lisboa (300 km no total); assim, tenho 6 dias para esperar pelo carregador e procurar os melhores preços na rede pública - especialmente esta última parte. Uma carga de 20% a 90% no posto lento perto da minha casa demora cerca de 3 horas. Ou seja, posso sair de casa (tenho a flexibilidade do trabalho remoto), deixar o carro a carregar e regressar a pé para casa, retornando depois de 3 horas para buscar o carro.

Se por um lado é bastante simples, por outro é pouco cômodo mas é isso que precisam de avaliar para perceber o que estariam dispostos a fazer (eu apenas recomendo carros elétricos a quem possa carregar na garagem de casa, primariamente; depois, existem outros fatores, e nunca recomendo a minha situação).

Obviamente que, se por algum motivo não conseguir carregar no PCN, sempre tenho um PCR à disposição, que carrega a mesma percentagem em cerca de 45 minutos, o que me dá tempo de fazer compras no Lidl, por exemplo, que é um dos locais com melhor tarifa de carregamento.

Em média, com uma carga de cerca de 90%/95%, o meu Tesla nunca consegue fazer a viagem de ida e volta a Lisboa (300 km), pois a 120 km/h em autoestrada a autonomia é de aproximadamente 280 km. Portanto, quando chego a Lisboa, preciso sempre de carregar.

Perto do meu local de trabalho, tenho dois postos públicos: um na rua onde trabalho e outro num parque de estacionamento a 2 minutos a pé. Quando chego (com 30% a 40% de carga), deixo o carro a carregar e, após cerca de 2 horas e 30 minutos, retiro-o do carregador e estaciono-o na garagem.

Um dos problemas da rede pública é o facto de haver pessoas que só pensam em si e deixam o carro a 'carregar' por horas a fio em um lugar destinado a veículos em carga, onde, por vezes, ocupam o mesmo lugar por mais de 9 horas. A solução passa por denunciar à Polícia Municipal e esperar que autuem as pessoas. Infelizmente, é nestes pequenos detalhes que vemos o quão ruim está a nossa sociedade.

Também é comum encontrar carregadores avariados sem que tal apareça assinalado nas app de carregamentos. Assim, sugiro sempre ter um ou dois planos de backup. Por exemplo no meu caso, se não conseguir carregar perto do trabalho, sei que tenho autonomia para chegar até à estação de serviço de Aveiras, onde há dois carregadores rápidos. Contudo, até lá, posso carregar em Vila Franca de Xira, ao lado da A1, tanto no McDonald's como no Intermarché, garantindo assim que estou sempre salvaguardado de qualquer imprevisto e sem fazer grandes desvios da rota inicial, que é a A1 Sul -> Norte.


O Tesla está a compensar face ao Mercedes?

O Excel não mente, sim, está a compensar! E apenas estou a colocar na equação o custo de eletricidade vs diesel. Recordando mais uma vez que quase todos os carregamentos que fiz foram em rede pública (apenas 14% foram em casa).

Elétrico vs Diesel

A poupança em comparação com o Mercedes, a diesel, é de 734,17€, e a tendência é continuar a aumentar. Mesmo com a atualização dos preços da eletricidade, onde se está a pagar mais, o Tesla continua a compensar em relação à combustão. Em outras palavras, para percorrer os 21.000 km, no Mercedes teria de gastar 2127,88€, enquanto no Tesla gastei apenas 1393,71€.

Algumas notas importantes sobre as contas por trás destes números. O cálculo da eletricidade é simples; consigo facilmente saber quanto paguei por cada carregamento (seja em casa ou num posto público, como é o meu caso). Para o cálculo do gasóleo, fiz o download do odómetro do Tesla desde que o comprei até janeiro de 2024 e simulei o dia em que iria abastecer o Mercedes, tendo em conta a média que fazia (5,8 l/100 km) e a quantidade média de litros que colocava (40 litros). Depois, multipliquei os litros pelo preço do gasóleo nesse dia específico, chegando assim ao total.

Como o título indica, não tenho garagem e, por isso, solução de carregamento em casa, pelo que a maioria dos carregamentos são feitos em postos públicos ou quando vou visitar os meus pais, onde instalei um carregador. Aqui estão os dados sobre os meus carregamentos¹:

Até à data, o meu CEME preferido, como podem ver, é a Via Verde. É sempre uma das opções mais baratas. No entanto, não é apenas o CEME que influencia o preço final, pois também há outras taxas e o OPC (Operador de Posto de Carregamento), que podem variar de posto para posto e até ao longo dos meses (podendo ser mais barato ou mais caro, por exemplo). Neste caso, para utilizar a Via Verde, é necessário recorrer à aplicação, mas já me deparei algumas vezes com postos onde não consegui efetuar a ligação. Por isso, aconselho sempre a terem uma ou mais alternativas em cartão dentro do carro. Neste momento, tenho os seguintes cartões CEME: Miio, Prio, Luzigás, EDP Comercial e eVaz Energy. Como tenho vários, costumo verificar na app da Miio qual a opção mais barata para o posto em questão antes de carregar.

Em linha com o primeiro gráfico da poupança, também decidi calcular qual seria a minha poupança se tivesse garagem, utilizando um preço médio do kWh desde abril de 2023 até janeiro de 2024, onde talvez tenha até exagerado, fixando-o em 0,185€/kWh.

Devido à capacidade da bateria do meu Tesla não ser suficiente para ir e voltar de Abrantes a Lisboa, tenho sempre de carregar em Lisboa. Por isso assumi que metade dos kWh que gastei até hoje, 4072 kWh (+- 175Wh/km), foram carregados em casa e a outra metade na rua, a um custo médio de 0,348€/kWh, que é a média dos carregamentos que fiz nos postos públicos. Sendo assim, teria tido aproximadamente mais 235,22€ de poupança em comparação com o diesel.

Além destes cálculos, há outros benefícios que não foram tidos em conta, como a isenção do Imposto Único de Circulação (IUC), a vantagem de pagar apenas 12€ por ano para estacionar em Lisboa e o custo praticamente irrisório das revisões (paguei apenas 70€ para a troca dos filtros, um serviço que poderia ter feito eu mesmo sem afetar a garantia, embora a Tesla tenha vindo até Abrantes para realizá-lo).

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Em resumo: um carro elétrico compensa? Sim. É necessário ter uma garagem com solução de carregamento? Sim, altamente recomendável. Um carro elétrico é para todos? Claro que não. É preciso ter uma rotina que se encaixe no uso de um veículo elétrico, e não o contrário. Somente assim conseguirás desfrutar de todas as vantagens de possuir um carro elétrico, incluindo a potência de aceleração sob o teu pé direito.

Nota ¹: No gráfico dos CEME, estão registados menos 5 carregamentos do que no gráfico dos Tipos de Carregamento, pois não consigo identificar qual CEME utilizei. Ou seja, existem 5 carregamentos que não aparecem na Via Verde, Miio ou Prio, o que também indica que ainda não os paguei (dois em outubro, um em novembro, um em dezembro e um em janeiro). Para efeitos de contabilidade, no gráfico acima, multipliquei os kWh adicionados nesses carregamentos pela média de preço por kWh em postos públicos desde que tenho o Tesla.


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